janeiro 26, 2015

Pelo direito de parir ou não.

Quando eu era mais nova, sempre achei que um dia eu  ia querer ser mãe. Fazia pleno sentido já que sempre gostei de crianças e me considerava ótima para lidar com elas. O único detalhe é que essa vontade nunca veio, penso que o tal relógio biológico pode estar quebrado ou sem bateria. Veja bem, eu não afirmo que jamais vou querer vivenciar a maternidade, mas eu devo admitir que só de pensar a respeito já me corre um calafrio de terror espinha abaixo. 

Estando casada há quase dois anos e tendo a minha idade, as pessoas já começaram a interferir na minha escolha, - nada de novo aí, eu sei - mas o meu problema reside no fato de morar numa cidade considerada pequena e num país diferente daquele onde nasci. Me assombra como um lugar que praticamente governa o mundo em termos de avanços tecnológicos, científicos e até sociais pode ser onde estão as pessoas mais conservadoras e de mentalidade mais tacanha que já vi. Eu bem sei que toda vez que alguém se casa, as cobranças alheias começam, especialmente vindo dos mais velhos. Todavia, o que vivencio aqui é um pouco mais profundo.

Não existe um dia que eu não ouça uma indireta de alguém acerca do pouco tempo que tenho para engravidar. Que coisa mais cansativa! Olhares de reprovação de uma pessoa mais jovem do que eu porque eu disse que não queria ser mãe. Muitas vezes as pessoas estão felizes em me conhecer, fascinadas com a minha nacionalidade e tudo isso cai por terra se por ventura tocarmos nesse assunto. É como se eu fosse uma pessoa má por não querer ter filhos, incompetente por não estar preparada para ser mãe, preguiçosa, egoísta e mais um monte de adjetivos não muito legais. Me causa muito estranhamento ouvir no século XXI que o único motivo para duas pessoas estarem juntas é ter filhos ou que meu marido, que nem sabe se quer filhos, vai me culpar de tê-lo privado de ser pai no futuro e me deixar por alguém mais nova que possa realizar o desejo dele, ou ainda, que eu nunca serei completa por nunca ter parido ninguém ou não terei alguém para cuidar de mim quando for velha (e a egoísta sou eu).


Pensando com meus botões e me conhecendo bem, acho que essa pressão exterior me faz ser mais aversa ainda à ideia de ter filhos, cada dia um pouco mais. Onde está o meu direito de escolher o que quero para mim? É muito fácil julgar quando não a pessoa não vai vir até aqui trocar fraldas sujas, amamentar, ficar sem dormir e pagar pelo custo de ter um filho por mim. Já ouvi piadinhas também por ter um cachorro. Alguns acham absurdo que alguém possa ter afeição por um animal, mas não queria crianças.  Sim, porque as pessoas acreditam mesmo que não são ignorantes ao tentarem forçar suas escolhas, preferências e opiniões na vida de outrem. O meu enjoo ultimamente é tanto que até passei a gostar menos de crianças do que eu gostava antes.

Pode ser que eu um dia mude de ideia, pode ser que engravide de forma indesejada, mas existe a possibilidade que eu nunca seja mãe e seja muito mais feliz por isso. Só gostaria mesmo de exercer o meu direito de decidir o que é melhor pra mim sem ter nenhuma patrulha  - preconceituosa - da moral e da normalidade me dizendo o que devo fazer com minha vida. E já que estou no assunto, o mesmo serve para a escolha do parto, caso um dia eu  tenha um.

Fica meu apelo: parem de parir pela vagina alheia!




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