fevereiro 18, 2015

Sexta-feira 13


Não bastava o fato de eu, garota da cidade convicta e moradora de apartamentos a vida toda, morrer de medo de morar numa casa num lugar calmo até demais, a ida do meu marido à Suécia a trabalho tinha que acontecer. Nos dias que precederam a viagem até achei que eu tiraria de letra já que ele aceitou instalar um sistema de segurança para que eu pudesse ficar mais tranquila.
Só que essa tão esperada tranquilidade não veio. Cada noite era um pouco mais escura e aterrorizante do que a noite anterior, até que chegou a madrugada de sexta-feira.

Eu estava dormindo profundamente quando meu marido me ligou da Suécia (pela quinta vez) e me acordou. O tom de sua voz era inquieto e demorei a achar o sentido do que ele dizia. Finalmente consegui entender que ele estava me perguntando se a empresa de segurança não tinha me ligado. Quando respondi que não, ele prosseguiu me informando que o sensor de movimento dentro de casa tinha disparado. 

Foi igual tomar um banho de água gelada! Despertei na hora diante da possibilidade de ter um intruso dentro de casa quando eu estava sozinha e cercada no segundo andar. Com o coração na boca, não conseguia mais acompanhar o que meu marido dizia em uma tentativa inútil de me manter calma. Meu pavor cresceu quando percebi que nosso cachorro estava de pé e alerta no canto do quarto, praticamente vi a minha vida passar em frente aos meus olhos.

Subitamente ouvi a campainha e o cachorro pôs-se a latir, meu marido dizia do outro lado da linha: “É a polícia! Vá abrir a porta!" e eu teimava que não queria descer as escadas e ser surpreendida pelo criminoso/serial killer/estuprador que estava lá embaixo. Dei-me por vencida quando meu marido me avisou que se eu não abrisse a porta, eles arrombariam.

Desci as escadas de camisola, descabelada e petrificada. Abri a porta e dei de cara com uma policial, parecendo aquela típica cena de filme: uniforme marrom, super séria perguntando se eu estava sozinha. Fiz que sim com a cabeça e ela entrou, com uma lanterna e uma arma e começou a checar a casa. Eu ia atrás, trêmula e o cachorro latia no segundo andar.

A policial comentou que ele latiria se houvesse alguém em casa e que ela tinha checado o perímetro e não tinha visto nenhuma pegada ao redor da casa (sim, pegadas na neve são fáceis de identificar). Ainda assim, na minha cabecinha medrosa, eu achava possível que alguém pudesse ter entrado em minha casa (ETs ou tele transporte, vai saber...), pedi que ela checasse o tão temível porão e ela atendeu prontamente: Nada. Tudo trancado e nenhum indício da presença de ninguém.

Foi então que ela, a salvadora da pátria, descobriu que a persiana em uma das janelas da cozinha tinha caído e acionou o sensor. Acho que mereci, pois quem manda comprar as persianas mais vagabundas que consegui encontrar? Me despedi dela lembrando que eu tinha pensado na noite anterior que algo aconteceria na sexta-feira 13. Eu estava certa, só que não encontrei nenhum Jason Vorhees, só Murphy e sua lei.

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