julho 15, 2007

Da insônia e outros demônios

O dia amanhecera trôpego e soluçando, a luz preguiçosa esgueirou-se para tocá-la no joelho. Ao perceber, fez um gesto de impaciência e virou-se, da mesma forma que fizera durante todo o tempo em que estivera deitada procurando o sono. Mal sabia que ao descer do táxi na volta pra casa, naquela madrugada, tinha  deixado seu sono cair entre o meio fio e o asfalto. Sonolento, como é de sua natureza, o sono rolou devagar e se perdeu dentro do bueiro. E ela, sob a sombra da ignorância, se preparou para se entregar a quem nem estava presente.
Entregue ficou aos contornos do lençol que lhe abraçavam. E a música que escalava seu pavilhão auricular sorrateiramente. Levou horas para descobrir o porquê de não conseguir pegar no sono e sozinha com seus pensamentos, realizou que tinha medo. Terror de estar sozinha consigo mesma.
Sentou-se na cama, alcançou o telefone e discou com dedos errantes. Ninguém atendeu. Cedo demais para pedir socorro. Recorreu à internet e ninguém amigável respondeu. Começava a suar frio, quando ele, o sono, chegou ainda molhado e ferido pela queda bueiro abaixo até o esgoto. Cheirava mal e se arrastava de tão enfraquecido.
Ela não se importou, amparou e o pegou nos braços levando-o para debaixo das cobertas. Beijou e acariciou seu sono e toda a realidade em volta se dissolveu.
A cidade acordava.

Um comentário:

Anônimo disse...

basta pensar em sentir.